quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Citação

"... A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual,
por trás da mão que pega o lápis,
dos olhos que olham,
dos ouvidos que escutam,
há uma criança que pensa"
(Emília Ferreiro)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Salada de Títulos

Componentes:
•Tiras com títulos de histórias trabalhadas, recortadas ao meio.
Regras
•Dispor sobre uma superfície as tiras embaralhadas de modo que a primeira metade fique do lado esquerdo e a segunda metade fique do lado direito.
•Cada criança do grupo retira uma metade e em seguida procura a metade correspondente.
•Se acertar lê o título e fica com ele, se errar, devolve as tiras.
•Vence quem acumular mais tiras.

Jogo produzido pela cursista Monique Lopes Gitahy - 2008/2009

Avaliação

Iniciamos nesta semana os estudos do fascículo 2 do Pró-Letramento que trata sobre avaliação.

As discussões foram intensas e revelaram as angústias do educador diante do desafio de avaliar seus alunos sem culpa ou injustiças.

Para provocar ainda mais fiz a leitura do texto abaixo:

O CACHORRRO
Um açougueiro estava em sua loja e ficou surpreso quando um cachorro entrou.

Ele espantou o cachorro, mas logo o cãozinho voltou. Novamente ele tentou espantá-lo, foi quando viu que o animal trazia um bilhete na boca.

Ele pegou o bilhete e leu: – “Pode me mandar 12 salsichas e uma perna de carneiro, por favor. Assinado: dono do cachorro.

Ele olhou e viu que dentro da boca do cachorro havia uma nota de 50 Reais.

Então ele pegou o dinheiro, separou as salsichas e a perna de carneiro, colocou numa embalagem plástica, junto com o troco, e pôs na boca do cachorro.

O açougueiro ficou impressionado e como já era mesmo hora de fechar o açougue, ele decidiu seguir o animal.

O cachorro desceu a rua, quando chegou ao cruzamento deixou a bolsa no chão, pulou e apertou o botão para fechar o sinal. Esperou pacientemente com o saco na boca até que o sinal fechasse e ele pudesse atravessar a rua.

O açougueiro e o cão foram caminhando pela rua, até que o cão parou em uma
casa e pôs as compras na calçada.

Então, voltou um pouco, correu e se atirou contra a porta. Tornou a fazer isso. Ninguém respondeu na casa. Então, o cachorro circundou a casa, pulou um muro baixo, foi até a janela e começou a bater com a cabeça no vidro várias vezes. Depois disso, caminhou de volta para a porta, e foi quando alguém abriu a porta e começou a bater no cachorro.

O açougueiro correu até esta pessoa e o impediu, dizendo: – “Por Deus do céu, o que você está fazendo? O seu cão é um gênio!”

A pessoa respondeu: – “Um gênio? Esta já é a segunda vez esta semana que este estúpido ESQUECE a chave!!!”.

Moral da História:
“Você pode continuar excedendo às expectativas, mas para os olhos de alguns, você estará sempre abaixo do esperado.”

terça-feira, 22 de setembro de 2009

online

A Moça Tecelã

Esta foi a Leitura Deleite desta semana. Um livro maravilhoso que seduziu a todos os cursistas.

Leia o resumo da obra e seja seduzido também!

O conto A Moça Tecelã de Marina Colassanti é um conto de fadas moderno que narra o di-a-dia de uma moça que tece.Nada lhe falta, passa seus dias a tecer com cuidado e amor ao trabalho que executa.A moça usa seu tear para expressar seus sentimentos, através das cores das linhas a moça tece a vida e seus humores.É feliz em seu ofício e tece tudo que sua imaginação lhe permite.Os dias passam e nada lhe falta, porque tece tudo de que necessita,leite, peixe...Porém chega um tempo em que começa a se sentir sozinha e começa sentir necessidade de uma companhia, um marido a seu lado.Imediatamente pega os fios e começa a tecer o marido imaginário com que sonha.Com cuidado escolhe os fios mais bonitos e delicados e inicia a sua grande obra.O marido imaginado ganha chapéu, corpo e rosto bem desenhados e um belo par de sapados bem engraxados. Terminada a obra, a porta de sua casa se abre, e eis que que surge o marido esperado.Feliz a moça tecelã dorme no ombro do companheiro e sonha com os lindos filhos que teriam.Ela foi muito feliz por algum tempo, porém os propósitos de seu amado eram diferentes dos seus. Ao invés de filhos ele queria uma casa melhor, maior e mais bonita, e exigiu que a esposa logo começasse a tecê-la. Terminada a casa o marido quis um palácio com arremates de prata.A moça tecelã dedicou semanas e meses na construção do tal palácio, sem tempo sequer para ver a luz do dia. Pronto o palácio o marido exigiu que ele tivesse uma torre bem alta para abrigar a esposa em seu ofício de tecer. Encerrada na mais alta torre do palácio a moça tecia e entristecia.Seus pensamentos se voltaram para o passado, para a casa simples em que vivia e para todas as coisas boas que um dia teve.Chegando à noite a moça resolve destecer o marido e puxa o primeiro fio e antes que ele acorde já estava destecido completamente.A moça tecelã volta a sua vida simples e feliz de tecer com simplicidade e alegria seus sonhos de mulher.

DITADO PELAS CRIANÇAS

Numa das minhas andanças pelos blogs de alfabetização encontrei este texto interessantíssimo. Sugiram que visitem o blog: http://www.sandrabozza.com.br/

O ditado pelas crianças... como seria? Eu escriba?

(Sandra Bozza)
Quando as crianças ditam e você escreve há uma oportunidade especial para que MUITOS conteúdos de Língua Portuguesa sejam mediados com tranqüilidade. Para isso é preciso:

a) selecionar pequenos textos (ou versos, adivinhas de duas linhas) que eles saibam de cor;

b) organizar o ditado para que todos ditem em conjunto e em tom de voz bem audível;

c) vc escrever falando em voz alta e ajustando a FALA à ESCRITA;

d) ler, apontando, o que já escreveu e reorganizar a parte que ainda precisa ser ditada pelos alunos.

e) Para concluir, encaminhar a leitura com toda a turma, diversas vezes e até colocá-los em situação de leitura individual, se for o caso (se o desenvolvimento das cças permitir).

Esse tipo de encaminhamento sistematiza os seguintes conteúdos de Língua:

Função social da escrita (escreve-se para alguém ler, com determinada intenção)

Relação oralidade/escrita (a linguagem falada pode ser representada pela escrita)

Idéia de representação (há várias formas de se representar as idéias e os objetos, mas a escrita representa os sons da fala e não os bjetos/idéias que as palavras representam)

Escrita como sistema de representação (a linguagem escrita não se caracteriza apenas como a transcrição gráfica da fala, é articulada através de convenções específicas, símbolos que formam um complexo sistema)

Alfabeto como conjunto de símbolos próprios da escrita (com apenas 23 letras – além do K,Y,W - combinadas apropriadamente é possível escrever qualquer palavra)

Outros sinais da escrita: os diacríticos - acentuação, sinais gráficos e de pontuação (além das letras, o sistema de escrita utiliza outros símbolos para veicular idéias adequadamente)

Relação grafema/fonema (como se combinam letras e sons)

Direção da escrita (escreve-se, geralmente, da esquerda para a direita e de cima para baixo)

Espaçamento entre as palavras (as palavras escritas, contrariamente à oralidade, necessitam de um espaço entre si)

Unidade temática (todas as partes do texto estão relacionadas entre si e com uma unidade de sentido maior: a intenção, o tema, o assunto)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Urubus e sabiás


Rubem Alves


"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."
O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 81.

É PERMITIDO COLAR!



Uma questão que muito me incomoda é o controle que muitos educadores insistem em exercer sobre o processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Tais educadores assumem a postura de únicos mediadores na construção do conhecimento. Assim, chegam a exaustão na tentativa de multiplicarem-se em sala de aula. Todo este esforço, ao meu ver, desnecessário, poderia ser minimizado e, ao mesmo tempo potencializado se compreendessem que é na interação com o outro que o aluno põe em jogo tudo o que sabe e avança em suas hipóteses.
Tenho defendido que na alfabetização é permitido colar. É preciso compreender que o trabalho com duplas produtivas favorece a aprendizagem. Cabe ao professor, mediante diagnóstico, estabelecer critérios para formação destas duplas. Crianças com conhecimentos próximos tendem a evoluir quando têm a oportunidade de comparar seus conhecimentos com os do colega, já as que apresentam grandes discrepâncias tendem a perder a motivação para realização da tarefa.
Também um outro aspecto que poderíamos rotular como cola são as atividades de consulta. O desafio para o aluno que ainda não lê convencionalmente está posto quando, sabendo "o quê" tem que procurar, seja em um cartaz, um livro, revista ou no próprio caderno, precisa lançar mão de estratégias para realizar a leitura necessária para obtenção da informação desejada. Um ditado com consulta é pois uma atividade de leitura, enquanto um ditado sem consulta é uma atividade de escrita. Ambos tem valor e são necessários no processo de aquisição e consolidação do domínio do sistema de escrita alfabética.
Por Mônica Valéria Pinheiro

PRINCÍPIOS DO SISTEMA DE ESCRITA ALFABÉTICA


Fonte: Pró-Letramento/ Fascículo7 p.32


Na escrita alfabética, são utilizados símbolos (26) letras que já existem no mundo social; não se pode inventar e estas são diferentes dos números e de outros símbolos.

As letras apresentam variações no traçado, no entanto alguns traços são delimitadores e diferenciadores entre as diversas letras.

A direção predominante da escrita é a horizontal, com traçado da esquerda para a direita. Também se escreve, geralmente de cima para baixo.

A escrita alfabética registra (nota) a seqüência sonora (ou significante).

As palavras são segmentadas em partes menores (sílabas).

As sílabas são compostas de unidades menores (fonemas).

Há diferentes estruturas silábicas, mas toda sílaba contém uma vogal.

As correspondências na escrita alfabéticas são grafofônicas, ou seja, entre letras (ou dígrafos) e fonemas.

A ordem em que as letras são grafadas correspondem a ordem em que as unidades sonoras são pronunciadas.

As regras de correspondência entre letra e sons são ortográficas e não fonéticas. Dessa forma, pode-se representar um mesmo fonema através de letras diferentes ou uma mesma letra pode representar fonemas diferentes, assim como um fonema pode ser representado por uma ou mais letras

MEMÓRIAS BURRAS NUNCA ESQUECEM


Rubem Alves


Eu confesso: se tentasse entrar na universidade via vestibular, não passaria. Meu consolo é saber que eu não estaria sozinho. Teria muitos companheiros. Os reitores de nossas grandes universidades seriam os primeiros. A seguir, respeitáveis professores e pesquisadores. Eles talvez não passassem nem mesmo em suas próprias disciplinas.
É duvidoso que um professor que há anos se dedica a pesquisas de biologia molecular ainda se lembre de como resolver problemas estatísticos de genética. Também os professores dos cursinhos: cada um passaria brilhantemente na disciplina de sua especialidade. Mas também é duvidoso que um professor de português consiga resolver problemas de química ou física. Com eles, os professores que elaboram as questões que os alunos terão de responder. Para eles, vale o que foi dito sobre os professores dos cursinhos. Por fim, os diretores das empresas que preparam os vestibulares...
Essa hipótese desaforada poderia ser testada facilmente: bastaria que os personagens acima mencionados se submetessem aos vestibulares. Claro: seria proibido que se preparassem. O objetivo seria testar o que foi realmente aprendido. O que foi realmente aprendido é aquilo que sobreviveu à ação purificadora do esquecimento. O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento faz o seu trabalho...
Vestibular: porta de entrada para a universidade? Seria bom se sua função se limitasse a isso. O sinistro está não no que é dito, mas no que permanece não dito: os vestibulares são um dragão devorador de inteligências cuja sombra se alonga para trás, cobrindo adolescentes e crianças.
Desde cedo, pais e escolas sabem que a escola deve preparar para os vestibulares. Os vestibulares, assim, determinam os padrões de conhecimento e inteligência a serem cultivados. Mas não existe nada mais contrário à educação que os padrões de conhecimento e inteligência que os vestibulares estabelecem.
O escritor Mário Prata escreveu uma crônica sobre as meninas jogadoras de vôlei. Era uma crônica leve, bem-humorada, picante. Era impossível não sorrir ao lê-la. Lida, ficava para sempre na memória, pois a memória guarda o que deu prazer. Passados alguns meses, ele voltou ao assunto da primeira numa crônica dirigida, se não me engano, ao então senhor ministro da Educação. É que sua primeira crônica fora usada, na íntegra, num exame vestibular.
Para um escritor, ter uma crônica transcrita, na íntegra, num exame vestibular, equivale a uma consagração. Mário Prata estava felicíssimo. Exceto por um detalhe: os examinadores, para transformar sua crônica em objeto de exame, prepararam uma série de questões sobre ela, cada uma com várias alternativas de resposta. Mário Prata resolveu, então, brincar de vestibulando. Tentou responder às questões. Não acertou uma! (Eu me saí pior do que ele. Tentei responder às questões, mas houve algumas que nem mesmo entendi!)
Se o vestibular fosse para valer, ele teria zerado no texto que ele mesmo escrevera. Ele se dirigiu, então, ao senhor ministro da Educação comentando esse absurdo. E perguntou se não teria sido muito mais inteligente se os examinadores, gramáticos, tivessem pedido que os moços escrevessem um parágrafo sobre seu artigo. Aqueles saberes esotéricos que lhes eram pedidos nunca teriam qualquer uso em suas vidas. Compreende-se que, como resultado do seu preparo para os vestibulares, os jovens passem a detestar literatura.
Minha filha queria ser arquiteta. Como não havia outro caminho, matriculou-se num cursinho. Eu a via sofrer tendo de memorizar coisas que não lhe faziam sentido. Fiquei com dó e, por solidariedade, resolvi fazer um sacrifício: passei a estudar com ela. Estudei meiose e mitose, as causas da Guerra dos Cem Anos, cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos... Estudei também, contra a vontade e sem interesse, a necropsia da língua chamada análise sintática. Não sei para que serve. E dizia à minha filha, à guisa de consolo: "Você tem de aprender essas coisas que você não quer aprender porque a burocracia oficial assim determinou. Mas não se aflija. Passados dois meses, quase tudo terá sido esquecido. Só sobrarão os conhecimentos que fazem sentido...".
Pergunto a você, meu leitor: de tudo o que você teve de estudar para passar no vestibular, o que sobrou?
Por que nós, professores universitários, não passaríamos no vestibular? Por termos memória fraca? Não. Por termos memória inteligente. Burras não são as memórias que esquecem, mas as memórias que nada esquecem... A memória inteligente esquece o que não faz sentido. A memória viaja leve. Não leva bagagem desnecessária.
E aí eu pergunto: se nós, professores já dentro da universidade, não passaríamos nos exames vestibulares, por que é que os jovens, que ainda estão fora, têm de passar? É irracional. Especialmente em se considerando que irá acontecer com eles aquilo que aconteceu conosco: esquecerão... Haverá uma justificação pedagógica para esse absurdo? Ainda não a encontrei.
[Rubem Alves é educador e escritor. Site - http://www.rubemalves.com.br/]

Avaliação Escolar

Na tribo, 0; na panela, 10” ou Quando a avaliação engole as crianças...
Luca Rischbieter


Avaliar está na moda. Para o bem e para o mal, em todos os níveis, em todo o planeta, há uma tendência cada vez maior a implantar exames padronizados nas redes de ensino, o que facilita a comparação não apenas entre estudantes, mas também entre escolas e professores, entre redes inteiras e até entre países.
Não se faz pedagogia sem avaliação. Nisso todos concordamos. Agora, não se deve fazer avaliação sem uma concepção clara sobre as vantagens e as possíveis desvantagens das nossas escolhas sobre o que e como avaliar.
Quando privilegiamos um caminho de avaliação, necessariamente tomamos decisões sobre o que será levado em conta e, conseqüentemente, sobre o que será ignorado, o que ficará “de fora” das análises avaliativas. Ignorar ou esquecer isso é extremamente perigoso...
Para dar um exemplo bem claro e facilitar a discussão dessa questão, inventei uma pequena história estranha e triste, que peço que você leia:
Uma história de canibalismo
No meio da floresta tropical, é dia de prova. Toda a tribo está reunida para ver o pajé-examinador aplicar uma bateria de testes e fazer as escalas de avaliação dos futuros caçadores, batedores, escaladores de cipó, pescadores, artesãos, etc.
Para que os pais fiquem mais relaxados, enquanto não começam os testes, o pajé promove uma exibição de vídeo: trata-se de um filme feito por psicólogos da tribo, em que os testes são aplicados em duas crianças capturadas em um ataque a fazendas de colonizadores brancos.
Todos riem da performance desastrada das crianças brancas, que caem das árvores, enrolam-se nos cipós, quase engolem os dardos das zarabatanas... Enfim, todos concordam quando, encerrando a nossa triste história, o chefe da tribo diz:
— Puxa, que desastre! Mas como são burrinhas e incompetentes essas crianças civilizadas! Acho que só vai dar mesmo para aproveitá-las no jantar de formatura...





Para ler o texto na íntegra acesse o link



http://www.aprendebrasil.com.br/articulistas/luca_bd.asp?codtexto=660
*
___________________________________________
1 - Terezinha Carraher, David Carraher, Analúcia Schliemann. Na vida dez, na escola zero. São Paulo: Cortez, 1988. Ver especialmente o capítulo V. Uma pesquisa bastante semelhante, realizada com crianças de favelas de Buenos Aires, foi realizada por Emília Ferreiro: “O cálculo escolar e o cálculo com dinheiro em situação inflacionária”, em: Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1987. Capítulo 5.


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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

POR QUE É IMPORTANTE A UM PROFESSOR CONHECER A PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA

Rosana Aparecida Dutoit

Para compreender que:


  • Para aprender, a criança passa por um processo que não tem a lógica do conhecimento final, como é visto pelos adultos. Nenhum conceito nasce com o sujeito ou é importado de fora, mas precisa ser construído.

  • Todas as crianças sabem muitas coisas, só que umas sabem coisas diferentes das outras.

  • Ter pouca informação sobre a escrita não significa ter pouca informação sobre os conteúdos.

  • As hipóteses de escrita não significam erro e sim a forma como a criança expressa seu entendimento sobre a escrita num dado momento.

  • A interação de crianças com hipótese diferentes, em situações de leitura/escrita, é importante porque favorece a troca de informações e porque uma pode contribuir para o conhecimento da outra.

  • As hipóteses de escrita revelam o conhecimento da criança num determinado momento: não são perenes e transformam-se a medida que a criança reflete sobre as características e o funcionamento da escrita convencional.

  • As hipóteses de escrita são construídas e transformadas a partir do universo de informação disponível para as crianças e das situações didáticas de que participa.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Leitura e Escrita de Listas


Demonstração de atividades com listas
Pró-Letramento/ Mesquita - 2008

As listas são as primeiras formas expositivas de texto. O trabalho com listas favorece a aquisição da base alfabética; possibilita a reflexão entre as hipóteses de escrita do/a alfabetizando/a e a escrita convencional das palavras, promovendo o conflito cognitivo.

Objetivos
. Favorecer a aquisição da base alfabética (dos/as alfabetizandos/as não-alfabéticos/as) e da base
ortográfica (dos/as alfabetizandos/as alfabéticos/as). Possibilitar a escrita de textos em forma de
lista e o reconhecimento o seu uso funcional.

Sugestões de atividades
. Listar as palavras dos textos trabalhados, classificando-as de acordo com: a primeira e última letra; número de letra e de sílaba, vogais e consoantes, primeiras e últimas sílabas.

. Lista de nomes de animais, frutas, verduras, cores, plantas, objetos, brinquedos, brincadeiras,
super-heróis, novelas, filmes, time de futebol, etc.

. Lista de nomes dos/as alfabetizandos/as da classe, dos/as professores/as ou dos/as funcionários/as da escola.

. Lista de nomes dos/as alfabetizandos/as presentes ou ausentes; dos aniversariantes do mês.

Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SMEC
Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico – CENAP

Leitura e Escrita de Nomes Próprios



O nome próprio é um modelo estável de escrita. O trabalho com nomes informa as crianças sobre as letras, a quantidade, a posição e a ordem delas; permite o contato com diferentes sílabas e diferentes tamanhos de palavras, além de favorecer a aquisição da base alfabética.


Objetivo

. Registrar e reconhecer o próprio nome e dos/as colegas. Reconhecer o uso funcional do texto.


Desafios colocados aos alfabetizandos/as

. Tentar ler antes de saber ler convencionalmente.

. Estabelecer correspondência entre partes do oral e partes do escrito, ajustando o que sabem de corà escrita convencional.

. Acionar estratégias de leitura que permitam descobrir o que está escrito e onde.


Sugestões de atividades

. Jogos: bingo, dominó, caça-nomes, cruzadinha, quebra-cabeça, forca e lacunado com os nomes dos/as alfabetizandos/as.

. Montar nomes com alfabeto móvel.

. Caixa de palavra-texto (nomes dos alunos) para realização de leituras diárias.

. Lista dos nomes dos/as alfabetizandos/as, dos/as professores/as ou funcionários/as da escola.

. Classificar nomes dos/as alfabetizandos/as de acordo com: número de letra, de sílaba.

. Identificar letras do próprio nome em embalagens e rótulos.

. Criação de novos nomes a partir das primeiras sílabas de um e das últimas de outro, por exemplo:

ROBERTO – ROMÁRIO; PAULA – LARISSA.

. Procurar nomes escondidos dentro de outros nomes, por exemplo. LUCÉLIA = LU + CÉLIA; JULIANA = JULIA + ANA.

. Transformação de nomes: nomes femininos em masculinos ou vice-versa – ANGELA = ANGELO; nomes em seus diminuitivos ou aumentativos – PAULO = PAULINHO = PAULÃO;nomes em plural – CLARA = CLARAS.


Secretaria Municipal de Educação e Cultura – SMEC
Coordenadoria de Ensino e Apoio Pedagógico – CENAP

Brincando com nomes próprios

O trabalho com nome próprio tem se mostrado muito eficiente no processo de aquisição de alfabetização porque o nome da criança é o primeiro modelo estável de escrita além de possuir um significado real e particular para o aluno. Atividades de reflexão sobre a escrita, análise e comparação de letras, sílaba inicial e final podem e devem acontecer já na fase inicial da alfabetização.
Uma sugestão bem legal é brincar de fazer rimas com os nomes da turma a partir de um texto como o que segue abaixo:

INFÂNCIA

ANINHA
PULA AMARELINHA
HENRIQUE
BRINCA DE PIQUE
MARÍLIA
DE MÃE E FILHA
MARCELO
É O REI DO CASTELO
MARIAZINHA
SUA RAINHA
CAROLA
BRINCA DE BOLA
RENATO
DE GATO E RATO
JOÃO
DE POLÍCIA E LADRÃO
JOAQUIM
ANDA DE PATINS
TIETA
DE BICICLETA
E JANETE
DE PATINETE.
LUCINHA!
EU ESTOU SOZINHA.
VOCÊ QUER BRINCAR COMIGO?

Sônia Miranda. Pra boi dormir.
Rio de Janeiro: Record, 1999.

sábado, 12 de setembro de 2009

Realizei estas atividades com minha turma de 3ª etapa.
Foi muito produtiva!

LISTA DE CORES:
AZUL
BRANCO
VERDE
VERMELHO
CORAL
LILÁS
MARROM
PRETO
BEGE
AMARELO
ROSA
CINZA



ATIVIDADES:
1. Leitura Individual - cada aluno recebe uma cópia da lista e é estimulado a fazer a leitura prévia baseada na informação de que se trata de uma lista de cores.

3. Leitura coletiva - Exposição da lista em tamanho grande para que toda a turma possa acompanhar a leitura.

4. Ordenação alfabética - Organização da lista alfabeticamente. Pode ser feita individualmente, no caderno ou coletivamente com ltiras no quadro de pregas.

5. Separação de sílabas e contagem de letras e sílabas - para esta atividade há muitas possibilidades: oralmente, através de recorte das palavras em sílabas, através de palmas e etc.

6. Ditado colorido - cada aluno deve circular os nomes das cores ditadas pelo professor seguindo o comando de cores.

7. Ditado com consulta - O prefessor dita as cores em ordem aleatória e os alunos que ainda não dominam a leitura e a escrita podem consultar a lista. Este é um ditado de leitura.

8. Ditado sem consulta - O professor dita as cores em ordem aleatória e os alunos escrevem de acordo com suas hipóteses de escrita. Este é um ditado de escrita.

9. Pesquisa e construção de tabela das preferências da turma - o professor constroi uma tabela e afixa em lugar bem visível. Cada aluno registra sua cor preferida através de uma marcação pré-estabelecida. esta tabela pode ser explorada em diversas atividades, inclusive nas matemáticas.

10. Jogo da memória colorido - Cartões com correspondencia nome da cor e cor. Pode ser jogado em pequenos grupos. O objetivo é formar pares.

11. Bingo de cores - cada aluno confecciona sua própria cartela anotando o nome de quatro cores da lista apresentada. O Professor sorteia cartões coloridos e as crianças assinalam em suas cartelas os nomes destas cores. Vence quem marcar primeiro todos os nomes da cartela.

12. Escrita das cores de memória - O professor distribui pedaços de papel nos quais os alunos deverão escrever livremente os nomes das cores que lembrar.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sexa
Luis Fernando Verissimo

— Pai…
— Hmmmm…?
— Como é o feminino de sexo?
— O quê?
— O feminino de sexo.
— Não tem.
— Sexo não tem feminino?
— Não.
— Só tem sexo masculino?
— É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
— E como é o feminino de sexo?
— Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
— Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
— O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
— Não devia ser “a sexa”?
— Não.
— Por que não?
— Porque não! Desculpe. Porque não. “Sexo” é sempre masculino.
— O sexo da mulher é masculino?
— É não! O sexo da mulher é feminino.
— E como é o feminino?
— Sexo mesmo. Igual ao do homem.
— O sexo da mulher é igual ao do homem?
— É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
— Certo.
— São duas coisas diferentes.
— Então como é o feminino de sexo?
— É igual ao masculino.
— Mas não são diferentes?
— Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
— Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
— A palavra é masculina.
— Não. “A palavra” é feminino. Se fosse masculina seria “o pal…”
— Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
— Temos que ficar de olho nesse guri…
— Por quê?
— Ele só pensa em gramática.

O Rei de Quase Tudo

O Rei de Quase Tudo tinha quase tudo.
Tinha terras, exércitos e tinha muito ouro.
Mas, o Rei não estava satisfeito com o quase tudo.
Ele queria tudo.
Queria todas as terras.
Queria todos os exércitos do mundo.
E queria todo o ouro que ainda houvesse.
Assim, mandou os seus soldados à procura de tudo.
E mais terras foram conquistadas.
Outros exércitos foram dominados.
Nos seus cofres já não cabia tanto ouro.
Mas o Rei ainda não tinha tudo.
Continuava o Rei de Quase - Tudo.
Por isso ele quis mais.
Quis as flores, frutos e os pássaros.
Quis as estrelas e quis o sol.
Flores e frutos e pássaros lhe foram trazidos.
Estrelas foram aprisionados e o sol perdeu a liberdade.
Mas o rei ainda não tinha tudo.
Porque tendo as flores, não lhes podia prender a beleza e o perfume.
Tendo os pássaros, não lhes podia prender o cantar.
Tendo as estrelas, não lhes podia prender o brilho.
E tendo o sol, não lhe podia prender a luz.
O Rei era ainda o Rei de Quase tudo.
E ficou triste.
Na sua tristeza saiu a caminhar pelos seus reinos.
Mas os reinos eram agora muito feios.
As flores e os frutos tinha estrelas e o dia não tinha sol.
E triste como ele eram os seus súditos.
Então o Rei de Quase - Tudo não quis mais nada.
Mandou que devolvessem as flores aos campos e que entregassem as terras conquistadas.
Mandou que plantassem árvores para que dessem frutos e que soltassem os pássaros.
Mandou que distribuíssem as estrelas pelo céu e que libertassem o sol.
E o Rei ficou feliz.
Na sua imensa alegria sentiu a P A Z .
E sentindo a paz,
O Rei viu que não era mais o Rei de Quase - Tudo.
Ele agora tinha tudo.

Eliardo França

BINGO ILUSTRADO

COMO JOGAR:
•Cada aluno ou dupla recebe uma cartela com palavras que provoquem algum conflito, de modo que mesmo sem saber ler convencionalmente, possa utilizar estratégias de leitura.
•O professor ou um aluno do grupo sorteia uma ficha de figura e os alunos procuram o nome correspondente.
•Se encontrá-lo, marca a cartela.
•Vence quem completar a cartela primeiro.

Jogo elaborado pela cursista Monique Gitahy
Pró-Letramento Mesquita - Turma 2008
DOMINÓ DO ALFABETO


•Funciona basicamente como o dominó convencional. No mínimo 2 jogadores que devem ir encaixando a letra correspondente ao desenho ou vice-versa. ganha quem conseguir jogar a ultima carta que possui.

•Existe ainda a carta curinga que permite ao jogador que a possui, jogá-la em qualquer momento determinando inclusive qual letra se seguirá à sua carta curinga (desde que a mesma ainda não tenha sido jogada).

Jogo elaborado pela cursista Vanessa Cabral
Pró-Letramento Mesquita - Turma 2008

OS TRÊS PORQUINHOS NA VERSÃO DA 301


Na semana passada trabalhei com minha turma de 3º ano 5 versões diferentes da história dos Três Porquinhos. Meu objetivo era mostrar as muitas possibilidades de recontar uma mesma história e de possibilitar um trabalho de autoria. Assim, após as leituras, lancei o desafio de criar a versão da turma. Foi uma trabalheira... O texto ficou pronto em duas aulas e deixou patente que a produção textual é trabalhosa, que exige cuidados e adequações que passam despercebidos na linguagem oral, alem de evidenciar que em meio a muitas idéias é preciso selecionar as que garantam coesão e coerência textual.

Estou orgulhosa tanto pelo produto final quanto pelo processo.



OS TRÊS PORQUINHOS NA VERSÃO DA 301
Era uma vez três porquinhos que viviam em uma floresta.

Cada um resolveu construir sua própria casa.

O primeiro, chamado Zé Mané, construiu sua casa de vidro, assim poderia admirar a paisagem.

O segundo, chamado Zé Ruela, construiu sua casa de bambu, assim seria sempre fresquinha.

O terceiro, chamado Zé Sabido, construiu sua casa de tijolo, assim seria forte e segura.

Um dia, um lobo chamado Zé Malvado estava passeando pela floresta quando encontrou as casas dos três porquinhos.

Zé Malvado se aproximou da casa de vidro fantasiado de carteiro. Zé Mané, que não sabia ler, percebeu pelo pé que era o lobo e fugiu pela porta dos fundos pra casa de Zé Ruela.

Quando Zé Malvado percebeu que lá não havia ninguém, disfarçou-se de entregador de pizza e bateu na próxima casa.

Zé Ruela, que não tinha um tostão no bolso, já ia abrir a porta quando percebeu pelo rabo que só podia ser o lobo e saiu correndo pra casa do Zé Sabido.

Quando o lobo percebeu que lá não havia ninguém, disfarçou-se de bebê e bateu na terceira casa.

Os três porquinhos, que adoravam bebês, abriram a porta, mas perceberam a tempo que era o lobo por causa de seu tamanho e trataram de colocá-lo pra correr à base de vassouradas.

Nunca mais se ouviu falar do lobo Zé Malvado por aquelas bandas.

E os três porquinhos viveram felizes para sempre, cada um em sua casinha.

Versão Coletiva da turma 301 - E. M. Dulce de Moura
Profª Mônica Pinheiro

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Turma de Alfabetização e Linguagem - Noite


O primeiro encontro da turma da noite do Pró-Letramento Alfabetização e Linguagem aconteceu nesta última quarta-feira (03/09) e foi show!
O grupo mostrou-se bastante motivado.
Valeu, meninas! Aguardo vocês na próxima quarta!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

CENAS DE LETRAMENTO

Este vídeo nos ajuda a compreender um pouco mais o conceito de Letramento.

Leitura Deleite



LER DEVIA SER PROIBIDO
Guiomar de Grammon

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular um curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo
. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.


In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp.71-3.


Tutora: Mônica Valéria Pinheiro


Aconteceu hoje na E.M. Irena Sendler a aula inaugural do Pró-Letramento Alfabetização e Linguagem da turma da tarde.


Foram momentos significativos, nos quais pudemos nos conhecer além de conhecer o programa em si. Serão 21 encontros e certamente criaremos laços de confiança, amizade e parceria.
A todos os cursistas desejo boas vindas!


Na próxima quarta feira será a vez da turma da noite que se reunirá às 18:00h na E.M. Vereador Américo dos Santos.